Barricada de rua em chamas em Santiago: destruição durante protestos deverá ter alto custo
November 23rd 2019, for Poder360 by Deutsche Welle
Governo tem 1ª ideia de impacto
PIB de 2020 sofrerá consequência
Metade dos lojistas reclamam
Especialistas veem dano à imagem
Os números oficiais só mostrarão no final de novembro as reais consequências da crise social e política que atingiu o Chile há mais de 4 semanas. No entanto, os especialistas não estão otimistas em seus prognósticos.
Tudo indica que os números de produção e distribuição, comércio e construção, assim como o relatório econômico mensal do Banco Central chileno para outubro confirmarão as previsões negativas.
“Muito provavelmente, esse indicador será negativo e mostrará menos atividade em comparação com o mesmo mês do ano anterior, enquanto antes de todos esses eventos as previsões previam 1 crescimento superior a 3%“, disse o economista Tomás Flores, do think tank Libertad y Desarrollo.
A cientista social alemã Kirsten Sehnbruch, da London School of Ecomomics, observa que ainda é difícil prever os custos reais da crise no momento. “De qualquer modo, os investimentos estão totalmente estagnados, assim como o crescimento“, frisa.
“A situação econômica do país é difícil“, ressaltou o ministro das Finanças, Ignacio Briones, ao apresentar no Congresso a situação econômica e fiscal, no contexto do debate orçamentário.
Sehnbruch acha que é preciso observar como a situação se desenvolve. “Pode haver mais incidentes. Anúncios como o do Walmart, que pretende processar o Estado chileno por não ter garantido a ordem pública, também não estão ajudando a situação“, disse a cientista, mencionando 1 anúncio da rede de supermercados norte-americana, que entrou na Justiça para garantir proteção policial para suas lojas no país, depois que dezenas foram saqueadas ou incendiadas.
PREJUÍZOS NO COMÉRCIO
As condições estáveis, de que o presidente Sebastián Piñera tinha tanto orgulho e que descreviam o Chile como 1 oásis na América Latina, mudaram abruptamente. Uma das áreas mais atingidas é o transporte público. O metrô de Santiago foi vítima de vandalismo sem precedentes, estações e trens foram incendiadas. As estimativas mais recentes falam em US$ 370 milhões em prejuízos que, por falta de seguro, têm que ser financiados com dinheiro dos contribuintes.
A empresa estatal relata ter em operação 69% das estações e 83% dos quilômetros da rede de trilhos. Grupos de manifestantes também atearam fogo em ônibus e lojas, saquearam supermercados, destruíram escritórios públicos e privados e até atearam fogo a 1 campus universitário.
“A destruição de bens, infraestrutura e máquinas afetará o índice de produção, e a reconstrução custará muito dinheiro“, alerta Flores. “Especialmente pequenas e médias empresas sentiram a crise.” A Câmara de Comércio de Santiago estima as perdas pela destruição, a pilhagem e as quedas de vendas em mais de US$ 1,4 bilhão. Em dias que pareciam particularmente perigosos, muitas lojas permaneceram fechadas ou abriram por apenas algumas horas.
Segundo a Câmara de Comércio, “o faturamento anual do comércio caiu 10% desde 18 de outubro e as receitas de turismo e entretenimento, 36%“. O cancelamento de 2 grandes eventos, da Apec e da COP25, em novembro e dezembro, foi 1 duro golpe tanto para a imagem internacional chilena assim como para o setor de turismo e serviços, que esperava a visita de várias delegações.
“Quarenta e seis por cento das empresas sondadas pela Câmara de Comércio sofreram danos diretos, e todas se queixaram de vendas perdidas“, afirmou a Câmara. O governo estima o número de pequenas e médias empresas afetadas em 6.800. Para elas, foi criado 1 fundo de ajuda, que disponibiliza fundos de 500 mil a 4 milhões de pesos (R$ 2.600 a R$ 21 mil) para o reparo de instalações, a reposição de mercadorias ou para novo capital de giro.
CONSEQUÊNCIAS FINANCEIRAS
A crise também é evidente no mercado financeiro. O dólar atingiu 1 valor histórico de 803 pesos chilenos e depois voltou a cair gradualmente, mas não para os níveis pré-crise, que eram de cerca de 730 pesos, também graças a uma injeção de US$ 4 bilhões do Banco Central chileno. A bolsa caiu cerca de 13%. Na 6ª feira passada, ela havia se recuperado 8%, mas ainda estava em 1 nível mais baixo do que no período anterior à crise.
O governo está confiante de que a economia provavelmente se recuperará assim que a situação no país se normalizar, graças, entre outras coisas, à boa tributação e a reservas que o país possui. No entanto, a crise atingiu 1 país que, como o resto da América Latina, está em desaceleração econômica. A dívida pública, ainda que seja mais baixa que a de outros países da região, aumentou de 14% para 28% nos últimos 5 anos. “Isso limita a capacidade do governo de captar mais crédito, o que seria necessário para atender a todas as demandas“, diz Flores.
Além do custo da crise, em 2020, será preciso financiar o plano social proposto pelo governo, que prevê a destinação mais de US$ 1 bilhão ao sistema previdenciário, de saúde, renda mínima e reconstrução.
De acordo com estimativas preliminares do Ministério das Finanças do Chile, o crescimento do PIB (produto interno bruto) em 2020 será menor do que o esperado há apenas alguns meses, de 2% a 2,5%, como resultado da diminuição do consumo e de investimento privado.
O clima de violência diminuiu, mas os protestos e greves continuam, e atos de vandalismo ainda ocorrem. Outros fatores são mais difíceis de medir: “O Chile sofreu uma perda imaterial em termos de imagem no mundo“, diz Kirsten Sehnbruch.
“Pelo alto nível de violência, os saques e o incêndio do metrô, os protestos causaram revolta, tanto nacional quanto internacionalmente. E as pessoas se perguntavam sobre o que estava acontecendo no Chile, sobretudo quando veio o cancelamento de eventos como a COP25 e Apec“, acrescenta a especialista.
“Essa incerteza fez com que tanto indivíduos como empresas, provavelmente, esperem 1 pouco para levar adiante novos projetos até que saibam o que acontecerá no próximo ano“, diz Flores.
A economia chilena pode arcar com os custos da crise e proporcionar maiores gastos sociais? Flores acredita que “é possível se isso acontecer gradualmente, mas naturalmente não, caso os gastos públicos sejam aumentados em todas as áreas como o reivindicado atualmente“.
No entanto, especialistas concordam que, ao contrário de outros países afetados por conflitos na região, as instituições fortes do Chile ajudarão o país a mitigar os efeitos da crise.